Repito essa frase há praticamente uma década nas salas de aulas e palestras. Mas qual a relação existente entre essa frase, o famoso caso do corredor espanhol Ivan Fernandez Anaya e o nosso comportamento atual? Vamos refletir!
O caso fascinante do corredor espanhol que deu exemplo de fair play em uma corrida cross country em Nevarra, na Espanha, fez pensar aqueles que prestaram realmente atenção na atitude dele. Falo daqueles especiais, pois, apoiado no comportamento mediano de nossa sociedade, é bem capaz que poucos tenham compreendido a verdadeira lição prática a se utilizar em nossa vida.
Como advogado trabalhista, busco demonstrar aos meus alunos e clientes que toda relação tem por base os sentimentos. Os direitos que se discutem, na maioria das vezes, tornam-se um entrave nessa relação.
Acredito que você deve estar se perguntando: por que um entrave?
Afirmei que todas as relações se baseiam em sentimentos, pois a lei a ser cumprida é fria e os sentimentos não. Partindo dessa premissa, pode-se compreender aí a existência de um conflito. Vamos analisar isso.
O empregado busca colocar-se no mercado de trabalho para prover seu sustento, sua valorização e a realização de seus sonhos. O empresário necessita de colaboradores para desenvolver seus projetos e alcançar o sucesso. Com esses pontos, as relações iniciam-se sempre fundamentadas em sonhos, sentimentos e troca mútua. Ao definir os papéis, a relação deixa de ser emocional e passa a ser documental, na qual os sujeitos possuem direitos e obrigações diferentes de quando colocamos os sentimentos à prova.
Há mais de uma década, escuto empresários e empregados relatarem os seus sentimentos. Sempre me chamou a atenção o fato de que praticamente ninguém questionou que direitos têm em determinada ação, mas sim qual a forma pela qual poderiam vencer, a fim de demonstrar ao outro o quanto são fortes.
Ao longo dos anos, passei a estudar esse fenômeno. Compreendo que o que é de direito passou a ser visto apenas ao final das relações, pois o que realmente existia, durante as relações, era um sentimento de troca, em que as pessoas se doam, independentemente de quem sejam elas, para obter algo como: reconhecimento, salário ou promoções.
Após longos e intermináveis estudos, ao desenvolver de forma reflexiva a frase deste texto e ao comentá-la com os que estavam me ouvindo, percebi que, a partir daquele ponto, as pessoas começavam a refletir que foram românticas, mas não justas. Então é nesse ponto que se encontravam em dúvida acerca do sucesso.
Quando se fala que o sucesso é atuar sem romantismo, essa primeira parte da frase leva a uma interpretação um pouco hostil de minha gestão, mas não reflitamos de forma profunda.
Quando se atua de forma romântica, os sentimentos são sempre maiores do que o combinado, pois as expectativas não são palpáveis, impossíveis de serem dosadas.
Completando a frase, compreende-se que atuar sem romantismo, porém de forma justa, é exatamente o segredo para o sucesso. As pessoas que fazem parte de nossa sociedade, tanto empregados como empregadores, necessitam buscar o justo, o correto, o ponto de equilíbrio. Com essa compreensão, vislumbram-se maior possibilidade de que tudo venha a dar certo.
Sucesso é relativo a cada um, mas unânime quando o definimos a ponto de que tudo deu certo. Aí é sucesso para qualquer um.
Nosso comportamento tem sempre como base os sentimentos que, por muitas vezes, não nos faz enxergar as nossas atitudes. Algo que acontece diferente do que estávamos esperando é fonte de frustração e arrependimento.
Observem com atenção: quando atuamos de forma justa e não romântica, aprendemos a lidar com nossos sentimentos para compreender que não vamos conseguir tudo. Existem razões muito maiores para serem seguidas à risca, o que nos tornará muito mais próximos do sucesso.
Na tomada de decisões, agir de forma justa por muitas vezes transparecerá que está agindo de forma rígida ou abrindo mão do que aparentemente lhe pertence.
Observe que a atitude do corredor espanhol foi profundamente analisada em seus sentimentos, mas mostrou ter ele feito a tomada a decisão de forma justa, mesmo contrariando o desejo de todos, que é sempre vencer.
Caso você não tenha conhecimento dessa história, o corredor espanhol estava em segundo lugar na prova, quando avistou o seu maior concorrente, o corredor queniano Abel Mutai, que liderava com folga. Abel passou a diminuir o ritmo a menos de 20 metros da vitória por acreditar que já havia cruzado a linha de chegada.
Você que está lendo e refletindo sobre este meu texto, pode-se questionar se, em algum momento já não esteve em uma situação semelhante a esta, seja ela nas relações básicas de nossa convivência ou como empregado ou empregador.
O espetacular corredor em vez de ultrapassar o queniano e vencer a corrida, pois esse direito lhe pertencia, passou a analisar os seus sentimentos e a buscar a razão para ser justo. Alertou o atual campeão olímpico de que a corrida ainda não havia terminado.
Na coletiva de impressa, questionado por inúmeros jornalistas, o corredor Fernandez apenas respondeu: “Eu não merecia vencer.” e “Eu fiz o que tinha que ser feito”.
Por fim, o segredo do sucesso é atuar sem romantismo, porém de forma justa, quando há ética. O seu compromisso de ter apenas aquilo que lhe pertence é maior do que os seus sentimentos de conquistar aquilo que não mereceu.
Até a próxima reflexão!
Prof. MSc. Leandro Cleto Righetto
Especialista em Direito e Processo do Trabalho.
Advogado Trabalhista
Palestrante
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